quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Mais Um Fruto do Tédio

O texto é meio vago mas talvez, para minha felicidade, alguém goste. De defeitos provavelmente deve estar cheio. Mas o que vale é a intenção, e a inspiração só Deus sabe de onde vem, mas assim como chega, logo desaparece. Agradeço pela paciência de quem ler até o final.


Ela espera a ligação. Fica esperando, mesmo que seja apenas uma mensagem de texto, mas espera. Sabe que não deveria, sabe que é maluquice, mas contra toda sua vontade, espera. No fim, se dá conta de que realmente deseja que a luzinha do seu celular pisque, ou que saia qualquer som, mesmo que um grunhido, daquela caixinha, que olha com tanto remorso, nervosismo, com uma ponta de desespero, ódio e ansiedade. Mas nada.
O silêncio permanece e a tela continua preta, inerte com seus próprios pensamentos, reflexos e preocupações, demonstrando uma tranquilidade invejável, que chega a irritar, pois, ironicamente, parece ser proposital, querendo a desafiar. De repente olha para o relógio e se dá conta de que o ao mesmo tempo as horas parecem pular e se arrastar, o que é algo estranho, principalmente quando acaba percebendo que passou tudo isso mofando em um mesmo lugar a espera de algo que sabe que não vai acontecer.
Agora há conversas distantes, ininteligíveis, de vez em quando alguns risos, vidros quebrando, saltos altos ecoando pelos corredores anunciando antecipadamente a chegada de mais alguém, portas batendo. Apenas a normalidade, apenas mais um dia, um pouco mais tedioso, mas apenas mais um dia. Algumas pessoas passam em frente à porta e entram na sala ao lado, trocando algumas palavras para depois entrarem em um silêncio esquisito.
Branco, ou melhor, amarelado, de tanto tempo, já amarelou. Portas, paredes, teto, quadro, balcões, brancos amarelados. O normal em laboratórios. Uma janela com uma cortina que a encobre da metade para cima mostra um céu cinza, o que não agrada muito e faz lembrar o quanto o sol é bom e bonito. Parece que o dia nublado poderia levar a culpa por toda melancolia e tristeza, mas o coitado é inocente e está cumprindo apenas o seu dever, distante de todos os pensamentos que o cercam, seguindo seu próprio rumo, independente da vontade alheia.
O olhar dela se fixa no quadro, que indica, com várias cores e tipos de letras, a contra gosto as datas e nomes de vários eventos de iniciação científica, que dão um tremor profundo em qualquer um que saiba que um dia terá que se apresentar neles, mesmo que não admita e pareça maduro e preparado. Ao lado dele fica uma geladeira marrom, que felizmente quebra toda a brancura, muito velha, que de vez em quando resolve soltar a voz e depois de cansada, volta ao seu silêncio habitual.
E de repente, som, alto, assusta, mas sim! O toque indica uma mensagem, com um volume um pouco elevado, mas não importa. Há histórias engraçadas de se estar esperando uma mensagem importante durante horas, e o alívio ao ouvir tal som para depois sofrer com a decepção de ser apenas a operadora informando algo que você já saiba ou que de nada te importa. Mas dessa vez era ele. Não era a operadora querendo brincar com seus nervos. A mensagem continha poucas palavras e apenas respondia a pergunta feita anteriormente. Nada mais. Um pouco frustrante, mas ao menos, tinha respondido. E na verdade, a dúvida nem era dela, mas sim da amiga, que já tinha ido pra casa.
Chaves tintilam ao longe, e, ao lado, as conversas ficam mais animadas e altas com a chegada de um novo bolsista que está contando uma história engraçada sobre alguma coisa que não a interessou suficientemente para prestar atenção, o que na verdade é incomum considerando o tédio em que se encontrava. A ideia de estar no trabalho e trabalhar menos que em casa ainda é estranha e talvez nunca deixe de ser, afinal, parece uma ironia. Pensando bem, de ironias a vida está cheia. Os pensamentos são cortados com um “Valeu gente!” O garoto recém-chegado sai e se despede enquanto os outros emudecem novamente como se simplesmente nem estivessem ali, chega a ser um pouco engraçado.
O celular toca e, antes de olhar, ela já sabia quem era. Mãe. 

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