O texto é meio vago mas talvez, para minha felicidade, alguém goste. De defeitos provavelmente deve estar cheio. Mas o que vale é a intenção, e a inspiração só Deus sabe de onde vem, mas assim como chega, logo desaparece. Agradeço pela paciência de quem ler até o final.
Ela
espera a ligação. Fica esperando, mesmo que seja apenas uma mensagem de texto,
mas espera. Sabe que não deveria, sabe que é maluquice, mas contra toda sua
vontade, espera. No fim, se dá conta de que realmente deseja que a luzinha do
seu celular pisque, ou que saia qualquer som, mesmo que um grunhido, daquela
caixinha, que olha com tanto remorso, nervosismo, com uma ponta de desespero,
ódio e ansiedade. Mas nada.
O
silêncio permanece e a tela continua preta, inerte com seus próprios
pensamentos, reflexos e preocupações, demonstrando uma tranquilidade invejável,
que chega a irritar, pois, ironicamente, parece ser proposital, querendo a desafiar.
De repente olha para o relógio e se dá conta de que o ao mesmo tempo as horas
parecem pular e se arrastar, o que é algo estranho, principalmente quando acaba
percebendo que passou tudo isso mofando em um mesmo lugar a espera de algo que
sabe que não vai acontecer.
Agora
há conversas distantes, ininteligíveis, de vez em quando alguns risos, vidros
quebrando, saltos altos ecoando pelos corredores anunciando antecipadamente a
chegada de mais alguém, portas batendo. Apenas a normalidade, apenas mais um
dia, um pouco mais tedioso, mas apenas mais um dia. Algumas pessoas passam em
frente à porta e entram na sala ao lado, trocando algumas palavras para depois
entrarem em um silêncio esquisito.
Branco,
ou melhor, amarelado, de tanto tempo, já amarelou. Portas, paredes, teto,
quadro, balcões, brancos amarelados. O normal em laboratórios. Uma janela com
uma cortina que a encobre da metade para cima mostra um céu cinza, o que não
agrada muito e faz lembrar o quanto o sol é bom e bonito. Parece que o dia
nublado poderia levar a culpa por toda melancolia e tristeza, mas o coitado é
inocente e está cumprindo apenas o seu dever, distante de todos os pensamentos
que o cercam, seguindo seu próprio rumo, independente da vontade alheia.
O
olhar dela se fixa no quadro, que indica, com várias cores e tipos de letras, a
contra gosto as datas e nomes de vários eventos de iniciação científica, que
dão um tremor profundo em qualquer um que saiba que um dia terá que se
apresentar neles, mesmo que não admita e pareça maduro e preparado. Ao lado
dele fica uma geladeira marrom, que felizmente quebra toda a brancura, muito
velha, que de vez em quando resolve soltar a voz e depois de cansada, volta ao
seu silêncio habitual.
E
de repente, som, alto, assusta, mas sim! O toque indica uma mensagem, com um
volume um pouco elevado, mas não importa. Há histórias engraçadas de se estar
esperando uma mensagem importante durante horas, e o alívio ao ouvir tal som
para depois sofrer com a decepção de ser apenas a operadora informando algo que
você já saiba ou que de nada te importa. Mas dessa vez era ele. Não era a
operadora querendo brincar com seus nervos. A mensagem continha poucas palavras
e apenas respondia a pergunta feita anteriormente. Nada mais. Um pouco
frustrante, mas ao menos, tinha respondido. E na verdade, a dúvida nem era
dela, mas sim da amiga, que já tinha ido pra casa.
Chaves
tintilam ao longe, e, ao lado, as conversas ficam mais animadas e altas com a
chegada de um novo bolsista que está contando uma história engraçada sobre
alguma coisa que não a interessou suficientemente para prestar atenção, o que
na verdade é incomum considerando o tédio em que se encontrava. A ideia de
estar no trabalho e trabalhar menos que em casa ainda é estranha e talvez nunca
deixe de ser, afinal, parece uma ironia. Pensando bem, de ironias a vida está
cheia. Os pensamentos são cortados com um “Valeu gente!” O garoto recém-chegado
sai e se despede enquanto os outros emudecem novamente como se simplesmente nem
estivessem ali, chega a ser um pouco engraçado.
O
celular toca e, antes de olhar, ela já sabia quem era. Mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário